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Desta vez Wong Kar Wai resolve filmar nos Estados Unidos, com actores que falam a língua inglesa. Vários realizadores não americanos com filmografia bastante característica já tinham tentado a incursão por terras americanas e a maioria deu-se mal. Nesta caso, Wong Kar Wai ao tentar migrar o seu cunho pessoal para realidade americano não me pareceu totalmente bem sucedido. O filme tem três localizações, Manhattan, Memphis e Las Vegas percorridas por uma personagem que, tal como a maioria no Universo de Wong Kar Wai, procura a consciencialização do seu destino de uma forma tão intensa como se de uma busca de identidade se tratasse, usando o tempo como se este fosse um bem inesgotável. Também aqui a interacção entre personagens é feita através de melancólicas partilhas.
A cinematografia é característica com o uso das luzes néon, as cores desfocadas, saturadas e imagens distorcidas. E neste caso, para cada ambiente uma cor dominante. Preto fluorescente para Nova York, vermelhos e castanhos para Memphis e o dourado para Nevada.
Então, o que falha?
Norah Jones não é uma boa actriz. Não se sente a química entre a sua personagem e a personagem interpretada por Jude Law. Os filmes de Wong Kar Wai vivem bastante da química entre as personagens. O segmento de Las Vegas tem a excelente Natalie Portman que não só tem uma actuação muito boa como também consegue tirar alguma coisa de Norah Jones.
O argumento é outro problema, quando um realizador que costuma filmar, praticamente, sem guião opta por um guião mais dirigido e espartilhado, a probabilidade de não vir a conseguir os mesmos resultados é muito grande. Neste caso, ao contrário dos seus outros filmes em que os silêncios são ricos de significado, há demasiados diálogos e demasiadas explicações para coisas que já são evidentes (típico do cinema americano.
Quando se muda de director de fotografia e se pretende manter a mesma imagem, também pode não resultar muito bem. Christopher Doyle compunha luz e cor numa obra de arte, aqui Darius Khondji limita-se a colar-se à estética de Doyle e nalguns casos é muito bem sucedido.
Mais uma vez, a banda sonora tem um papel muito importante, também neste filme, com grandes músicas de Norah Jones, Cat Power, Ry Cooder, Cassandra Wilson, Otis Redding e outros.
Mas o filme é assim tão mau? Nada disso, é um filme que não se deve perder, mas quando se admira bastante a obra de um realizador, qualquer qualquer opção menos conseguída, pode ser considerada uma traição e consequentemente uma desilusão.
Nota: Consegue-se encontrar imensas referências a outros filmes do realizador, há frames que são quase tiradas directamente de Disponível para amar.